quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Vizinhança

Sem tempo, sem vento
Sem rumo, sem vela
Os sonhos guardados no bolso

A gravata, o relógio...
Pura vaidade
Dos olhos de peixe morto
A olhar o velório

O peso da idade
Reduz a vontade
De ser e saber e fazer

Mãe, eu quero ser grande
Quando eu crescer


Pra tomar café
E ler jornal.

O que diz
A vizinhança?

O que sabem
Os poucos moucos
Que entram na dança?

O que pensou Maria?
O que ela disse
Pras crianças?

O que pensa Seu Jorge
Quando ele vê
A tua maluquez?

Será que ele sabe
Que enlouquecer
É melhor que viver sem paz?

Mateus aprendeu
Desde cedo que a vida
É conhecer as regras do jogo.

Celine acredita
Que pimenta é sempre
Refresco nos olhos dos outros.

Patrícia trancou-se
No quarto da avó
Pra morrer de propósito.


E eu pensando
Que viver
Fosse coisa fácil!

Ser ou não ser...
Só questão
De deixar o mingau.

Minhas más lembranças,
Leve-as embora
Pro bem do meu Saint Chupança.

Deixe os cabelos
Brancos da minha infância.

Prefiro ser morto
Quando eu morrer


Mas antes vou viver.

Preciso ser outro
Quando eu nascer

De novo
Da água
Sem gás.

Eita, vida besta
Meu Deus, eita
Vida besta.

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