domingo, 5 de janeiro de 2014

A Bossa

Não há bossa
Nos olhos do preso
No olhar de desprezo
No susto da presa

No choro escondido
Em um quarto no quinto
No cesto de lixo
No encesto, na cesta

De frutas de cera
Ou de cimento.
Sexta-feira treze
De conhecimento.

No moço que indaga:
“Qual é o preço?”
Depende do apreço
Depende da pressa

Do texto, contexto,
Pretexto, da testa
Enrugada e do texto
No testamento.

Do dia do enterro
Do aborrecimento
Da altura do queixo
De quem se queixa.

Há bossa no alento
Na tarde, no vento...
Há nova no ar puro
No cheiro da flor.

A bossa em apuros
É o sonho maduro
Sem graça, de graça,
Desgraça no amor.

A nota aos ouvidos
Do homem caído
É fogo amigo
Alivio à dor.

Dos velhos a casa
A morada, o nicho
O porto do vinho
O ninho, o pudor.

Dos moços a estrada
A arma, o hino
Angústia cantada
Com gosto, sorrindo.

Viola afinada
Tiro preciso
Zunido, zoada
Pra todo indeciso.

E a boa nova
De que narciso
Só mente pros outros;
É honesto consigo.

E a bossa nova
É a arte do riso.
Somente pros tolos
Amar é sofrido.

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